Zaida, o princípio

Zaida, não quero escrever-te no teu aniversário, nem do nascimento nem da morte. Não podia cair na razão do poeta que vaticinou: Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:/ Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste;/ Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada. Não, não tem razão o Álvaro Campos. Escrevo-te numa segunda-feira, para que sejas o princípio de tudo, da liberdade, da ousadia, da performance, da desregra, do eco, da extravagância única e exclusiva tua. 

Anos se passaram desde que te foste para te deitares ao sol e celebrar em Pasárgada, para onde vai a estrita e iluminada legião de estrelas. 



Tu Zaida, que viveste esses tempos em que podias fazer a sociedade espelhar-se na arte, sem querer impor preconceitos, modismos e tendências. Eras a tua própria voz, sem gritar nem a sossurar. Eras a voz na dose que te convinha. Eras, à semelhança dos sindicalistas e nacionalistas de toda a parte, uma activista de uma causa sem códigos de conduta, ainda difícil de compreender nesses tempos. Por outro lado a Winnie Mandela, a Makeba, a Nina Simone, e cá estavas tu, sem representações, mas exercendo a tua presença. 

Tu, Zaida, antes que houvessem as “marandzas”, já alertavas para a vergonha alheia e gratuita, das relações por interesses que se sobrepõem ao genuíno amor. O que dirias, hoje, Zaida?

A violência doméstica baseada nos valores tradicionais, antes a do género, já havias denunciado, alertando para o negócio do lobolo.

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